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quinta-feira, 11 de junho de 2009

Residuo Sólidos

NÃO NO MEU QUINTAL16/04/09



Aterros distantes encarecem operação

Muita gente pensa que a coleta seletiva é a solução mágica para reduzir as 13 mil toneladas de lixo que São Paulo produz diariamente, 10% de toda a sujeira coletada no País. Por mais que soe politicamente incorreto, quatro razões indicam que não é bem assim: 1) a coleta seletiva é alimentada pela demanda do mercado de reciclagem, que não tem como absorver todo o material passível de reprocessamento; 2) a grande massa do lixo domiciliar é composta por matéria orgânica, não por lixo reciclável; 3) ela só funcionaria se fosse altamente mecanizada, o que está longe de acontecer; e 4) se for montada uma rede de caminhões capaz de coletar todo o material reciclável, o trânsito da metrópole pára de vez.
O mercado da reciclagem determina o ritmo da coleta seletiva. O alumínio é um dos produtos mais valorizados: R$ 3,80 por 65 latinhas (ou 1 quilo). Com isso, os 4,2 milhões de latinhas de cerveja ou refrigerante descartadas por dia na Grande São Paulo dificilmente chegam aos aterros sanitários. Mas o modelo não se repete com os 3,7 milhões de garrafas de cerveja e refrigerante ou as 870 mil garrafas PET. A capacidade de absorção da reciclagem de vidro e das embalagens PET é bem mais limitada. "O sistema de catadores resolve o problema de algumas pessoas pobres, jamais o problema do lixo", diz o geólogo Ângelo Consoni, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas.
Os números da reciclagem são desencontrados, mas o certo é que ainda se recicla muito pouco. O engenheiro André Vilhena, diretor do Compromisso Empresarial pela Reciclagem, uma organização não-governamental custeada por grandes empresas interessadas nos processos de reaproveitamento de materiais, garante que, do lixo seco, 18% são enviados à reciclagem; Weber Ciloni, diretor do Departamento de Limpeza Urbana, acena com 11%; Eduardo de Paula, diretor da cooperativa de catadores Coopamare, fala em 1%.
A dimensão do lixo domiciliar paulistano choca. Se a montanha de 9,5 mil toneladas gerada por dia nas residências fosse compactada e depositada no gramado de um campo de futebol, ela cresceria 2,24 metros por dia. Ao fim de um ano, formaria uma torre de 817,6 metros ou 272 andares. "O problema dos transportes é grave, mas sabemos a solução, só não temos dinheiro para resolver. Para o lixo, não temos uma solução", avalia o arquiteto Geraldo Serra, professor da Universidade de São Paulo.
O volume exagerado tem muito a ver com maus costumes. O paulistano produz, em média, quase 900 gramas de lixo todo dia. "O nome disso é desperdício", adverte Consoni. Poderia ser bem menos, dizem os especialistas. Certamente seria, se o lixo de São Paulo não contivesse altos porcentuais de matéria orgânica - 57,5% do total do lixo domiciliar. Na Europa, o detrito orgânico está entre 25% e 30% do lixo domiciliar, segundo Consoni. Para agravar a situação, o maior porcentual de matéria orgânica é descartado na periferia paulistana, mais populosa que nos bairros abastados.
O lixo deixou de ser um mero material degradado para se transformar num produto rentável: hoje, a operação de coleta e destinação do lixo paulistano está inteiramente terceirizada. Virou um negócio nas mãos da iniciativa privada. Em 2002, a empresa Essencis percebeu que São Paulo estava a caminho do impasse, com os Aterros São João, em Sapopemba, e o Bandeirantes, em Perus, à beira do esgotamento. Comprou uma área numa reserva de manejo de eucaliptos em Caieiras e preparou-a para ser um aterro. Quatro anos depois, o negócio se realizou: ali é operado, hoje, o maior - e salvador - escoadouro do lixo paulistano. Países como Japão e Canadá incineram o lixo, uma técnica cara demais. A engenheira Luzia Galdeano, gerente do aterro de Caieiras, afirma que a incineração custaria de R$ 150 a R$ 200 por tonelada, seis vezes mais que jogar os dejetos nos aterros.
Há, porém, um problema operacional: os aterros estão ficando cada vez mais distantes. A primeira razão é explicada por uma expressão americana "nimby" (abreviatura de "not in my backyard", ou "não no meu quintal") que exprime o consenso de que ninguém quer lixo perto de casa. A segunda é que a valorização do metro quadrado aumenta o custo dos terrenos próximos à região central. Mas levar o lixo para longe transforma uma solução em nova dor de cabeça: os 900 caminhões que participam da megaoperação de coleta agravam ainda mais o trânsito congestionado. Para percorrer os 54 quilômetros entre a estação de transbordo de Santo Amaro e o antigo Aterro São João, as carretas levavam 9 horas. Só do Aterro Bandeirantes, fechado em 2007, ainda saem 55 caminhões por dia para levar chorume (suco da decomposição orgânica) até a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb). Já foi pior. A cidade despejava lixo em terrenos como o do Parque do Ibirapuera. O gás metano era lançado no ar e o chorume impregnava os lençóis freáticos.

Carlos Marchi – Estadão
03/08/2008

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É talvez o último dia da minha vida. Saudei o Sol, levantando a mão direita, Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus, Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada. Alberto Caeiro

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